As vacas
Tenho a impressão de que algumas coisas que chegam em Belo Horizonte já chegam atrasadas.
Aqui, privilegia-se o gasto com aquilo que já não mais é, foi: finou-se.
Um bom exemplo: a história das vacas.
Não lhes parece irônico? Deboche? Chacota?
Estariam, as vacas, sendo usadas para suprir algum tipo de carência? Uma coisa assim: de volta à época do curral?
Pois é, aqui jaz um imenso curral.
As vacas podem, sim, remeter ao passado, nos fazer recordar da quantidade de estrume que rolava no que hoje conhecemos como Savassi. Bosta boa. Tão útil para plantar couve e feijão.
Eu cá imagino: somos todos muito bem educados, cãezinhos adestrados, canarinhos se amando em gaiolas coloridas, pois falta coragem para uma cagada antropofágica. Ao invés de vacas, esculturas em esterco. Falta coragem, mas acima de tudo falta ânimo, porque teríamos que remexer a bosta e, de quebra, correr do polícia. Uma solução seria uma espécie de barro úmido, merda sem cheiro, capim seco para enfeitar: uma opinião simpática para os artistas desta geração.
Quanto às vacas, as que fazem Mu, parecem sensatas: basta um movimento estranho e não medem esforço para enfiar o chifre no [!] do sujeito que resolver pular a cerca.
As réplicas, coitadas, estão por ai,
conformadas com o status de vaquinhas de presépio,
com o poder e a glória que as regem até se tornarem problema ambiental.